sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

E todos choravam!

É verdade!
Aqueles que eu achava não chorar, também choram!
Constatação prevista, mesmo que não imaginável.
Somos todos muito parecidos, quando se trata de sermos familia.
Familia nos termos de convivência, confiança e amizade!
Aqueles que sempre se mostraram enclausurados nas suas limitações sentimentais, de uma hora para outra, se rebelaram, e mostraram a face da normalidade daquilo que todos deveriam, do ponto de vista positivo, trasparecer.
Aqueles são envoltos por névoas periódicas que os fazem minimamente deixar evidente a fraquesa clara e plenamente perceptível do ser que somos.
Fraqueza... não quer sempre dizer que seja algo ruim.
Fraquejar muitas vezes diz respeito a não resistir a algo ruim, rompendo com este para mostrar o bom.
Este fraquejar encontra-se no deixar de mostrar o bom para cultivar e declamar o mau.
Muitos não se atinam para tal.
Muitos não clamam pelo resultado, e simplesmente fluem, sem chorar pelo que realmente é válido!
Assim, pelo que presenciei e constatei, concluo que mesmo aqueles que imaginamos não serem possibilitados, tem sim o seu potencial e também o seu valor.
O que enxergamos é apenas um reflexo desfocado do que a essência realmente representa.
Cabe a nós buscarmos visualizar a realidade presente na unidade de cada um, daqueles que pensamos nós realmente valer a pena.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Definitivamente.

Compaixão é coisa que se aprende em casa
Costumo dizer que aprender sobre a empatia faz parte da educação. Assim como generosidade, amizade e compaixão.
Eu tinha mais ou menos oito anos: minha mãe e a Teresa, minha irmã, juntavam roupas, lençóis, comida e brinquedos e íamos para a casa do Vicente, passar o dia. Pra mim, e para minhas outras irmãs, pouco mais velhas, era uma festa.
O Vicente era um pedreiro e pintor de paredes que vivia com a mulher e nove filhas num casebre na cidadezinha do interior de Minas, numa rua de terra batida e muitas árvores. Lembro que era uma casa branca por fora e escura por dentro, de cômodos pequenos e com um odor peculiar que até hoje minha memória olfativa mantém guardado.
Lembro que a filha mais velha, a Cida, tinha olhos azuis e tranças compridas muito louras. Ela era doente mental, mas ria e balbuciava palavras enquanto nos abraçava. E lembro de uma das mais novas, a Solange, que eu gostava de fazer de boneca. Havia um bebezinho e todas as outras meninas, cujos nomes se perderam na minha lembrança.
As visitas eram sempre em dias de sol, quando a Teresa nos levava para debaixo de uma mangueira e nos contava histórias de princesas, inventadas na hora. Brincávamos no quintal a tarde inteira, correndo em meio às galinhas e aos cachorros magrinhos e mansos. Lembro da alegria da mulher do Vicente, e dele próprio, que sorriam benevolentes, com um olhar de gratidão quase infantil.
Eu era criança, e mesmo sem entender muito bem as coisas, me comovia com aquilo. Ao fim do dia, quando íamos embora, sentia sempre uma alegria meio triste, que não entendia bem. Precisei de alguns anos para entender que o que eu sentia na hora da despedida era compaixão.
Foi assim que minha mãe nos ensinou sobre a generosidade, enquanto a Teresa falava que a visita era tão importante quanto os donativos, talvez até mais.
Um dia me mudei da cidadezinha, cresci e nunca mais vi aquela família, embora jamais tenha me esquecido daqueles dias que ficaram em minha memória como imagens mágicas, com uma luz dourada de infância.
Eu já estava com mais de trinta anos quando voltei à cidade e, enquanto subia uma ladeira, alguém gritou meu nome. Era um homem velho, de chapéu de palha, sentado sozinho no banco da praça.
-- Vicente! – gritei, como se encontrasse alguém de outro mundo.
E ali, naquele fim de tarde, voltamos àqueles dias tão vivos, enquanto pude rever, nos olhos dele, a mesma gratidão infantil do passado. A mesma gratidão infantil que boiou também nos meus olhos, quando nos reconhecemos amigos que o tempo não afastou.
*fonte: http://www.jblog.com.br/almalavada.php

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